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quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A Caixinha



Uma caixinha...
A joaninha vivia numa caixinha de anel.
Tão pequenina era a caixa que a joaninha mal podia sentir o ar e de tão baixo o seu teto não poderia voar.
Era escura. Por vezes quente. Muitas vezes fria quando percebia-se só.
Era um teste de sobrevivência longe de tudo que a pequena amava.
As outras joaninhas encostavam-se nas paredes do lado de fora da caixinha para lhes sussurrar palavras de força e persistência para seguir até o fim.
Que fim?
A joaninha ainda não sabia como sair daquela caixa.
A pequena achou uma brincadeira de mal gosto quem a tivesse colocado ali.
Era tão escuro. Tão frio. Tão só.
Algumas vezes jogavam-lhe alguns entulhos dentro da caixinha de anel.
Ficava mais escuro. Mais apertado. Mais sufocante. E, mesmo assim, sentia-se só... Num vazio.
Ela se obstinava na ideia de que iria descobrir quem pregou esta peça trancando-a naquela caixa.
Do lado de fora ninguém sabia responder-lhe.
A joaninha sabia que deveria manter-se forte o tempo inteiro, mas o tempo parecia não passar.
Dentro daquela caixa o tempo parecia parado.
Ela sentia falta da luz do sol, do brilho das estrelas e do luar.
Ali era apenas breu.
A joaninha sentia fome, sede, sono...
Ela queria apenas sentir o calor do abraço das asas dos que amava.
Mas eles estavam lá fora.
Algumas vezes eles vinham e batiam na caixinha.
TOC TOC. "Joaninha, o tempo vai passar logo. Continue firme."
Mas que tempo?
Lá dentro não cabia um relógio, nem uma fresta para entrar a luz do sol e saber que já é dia.
Só cabia ela e aquelas coisas que surgiam lá dentro.
A cada vez que surgia algo novo dentro da caixinha, a joaninha palpava cada um e aprendia algo sobre eles.
Alguns outros eram difíceis de desvendar.
Ela se sentia sufocada com a quantidade de coisas, mas a faziam esquecer do tempo que parecia estagnado.
A pequenina aprendia a cada dia, no entanto, era inevitável sentir saudades de tudo lá fora.
TOC TOC. Bateram de novo.
"Joaninha, o tempo está bem próximo do fim. Agora vai ser um pouco mais difícil, mas tenha coragem."
De novo essa história de tempo. 
Mais difícil do que já era?
A joaninha recebeu estas palavras e ficou na ponta dos pés.
Suas patinhas doíam com tamanho esforço, tudo para esperar aquele "fim" chegar.
"Vamos", dizia para si mesma, "é difícil ficar de pé, mas deve ser até o fim".
Em meio aos calos que surgiam, ela sentiu a escuridão se dissipar aos poucos.
Olhou para cima e viu uma fresta de luz passar pela tampa que aumentava conforme abria.
Seus olhos arroxeados provocados pelo cansaço foram tomando nova cor diante daquele espetáculo.
A joaninha olhava espantada para aquele clarão a frente dos seus olhinhos esbugalhados.
Foi, então, que ela avistou um grande sorriso nesta luz. 
Um sorriso incomum estampado acima dela.
Que sorriso era aquele?
Umas anteninhas surgiram na borda da caixa. 
Logo depois, patinhas e asinhas de cores avermelhadas com bolinhas pretas.
A joaninha revia ali todos aqueles que enfrentaram junto com ela aquela luta, mesmo do lado de fora.
Mas eles seguravam algo enorme.
Ela olhava mais para cima e o sorriso ainda estava ali, desta vez bem maior.
A pequena volta seu olho para aqueles que se dependuravam na borda e percebeu algo diferente.
Eles seguravam um grande espelho. 
E este espelho era a tampa da caixinha do anel que esteve voltada o tempo todo para ela, porém, não enxergava diante daquela escuridão.
Aquele largo sorriso naquela luz era ela. 
O espelho da caixa não podia refletir a sua dor naquela fase para que não a fizesse desistir.
O grande sorriso era o resultado da sua batalha contra a ausência de luz e as paredes que separavam-na das outras joaninhas que amava.
A Vida, a grande carcereira, a aprisionou ali por um tempo determinado para que provasse sua coragem e enfrentar o medo do escuro.
O medo do desconhecido.
Sim. Era um teste de sobrevivência.
Mas até as joaninhas são fortes.

by: Ariane Carvalho Xavier

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