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terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Depois da escuridão...



ELA: Ei... Acorda!
ELE ... Hã? O que houve?
ELA: Já é dia.
ELE: ... ?
ELA: Já é dia! Finalmente posso te ver à luz do dia. (com os olhos marejados de quem já chorava há algum tempo)
ELE: Nossa! ... Eu posso te ver! (esfregando os olhos)
ELA: Não é perfeito?!
ELE: Incrível! Imaginava que esse dia jamais se realizaria, meu amor.
ELA: ... (o abraça)
ELE: ... Você é linda!
ELA: ... Você é mais do que imaginei!
ELE: Seus olhos estão um pouco inchados. Estava chorando?
ELA: Não adormeci até o sol refletir aos poucos sobre você.
ELE: Deveria ter me acordado, assim nos víamos ao mesmo tempo.
ELA: Por muito tempo nos encontrávamos às brumas da escuridão e no fim da noite eu tinha que ir embora... O meu senhor jamais permitiria que eu voltasse ao nascer do sol, ou me transformaria em pedra.
ELE: E todas as vezes eu tinha medo de ser apenas um sonho bom. Que você era apenas um sonho... Mas todas as cartas eram a prova de que você era real.
ELA: Sim, sim. Eu estou aqui e agora podemos ver nossas faces claramente.
ELE: ... Mas o que realmente aconteceu?
ELA: Acho que adormecemos no meio da noite...
ELE: Sim, isso eu sei. Mas por que desta vez você não foi embora?
ELA: Não sei...
ELE: ...
ELA: ...
ELE: ... ?
ELA: Não quis ir embora. Senti você adormecer sobre o meu ombro e toquei a sua face...
ELE: ...
ELA: Desejei por tudo não ser mais "cega" apenas para poder ver o teu semblante.
ELE: ... (começam a brilhar as pequenas gotas dos seus olhos sob a luz do sol)
ELA: Eu não queria que fosse para sempre assim...
ELE: Estou tão feliz! ... Mas você está arriscando a sua vida e ela é importante para mim.
ELA: Eu sei...
ELE: ...
ELA: ...
ELE: Então, você arriscou a sua vida para podermos nos ver?
ELA: Acho que sim...
ELE: Foi por isto que você pediu para irmos para mais longe, para um lugar diferente? Para realizar o nosso desejo?
ELA: Sim...
ELE: Meu amor, não imagina a minha tamanha felicidade! Mas você sabe que não quero te perder...
ELA: Nem eu a você. Por isso me arrisquei para fugirmos de tudo, de tudo o que me prende a não me tornar feliz com você.
ELE: Você sabe que mesmo sem ver sua face por toda a eternidade eu te amaria da mesma forma.
ELA: ...
ELE: ... (os dois se fitam admirando um ao outro)
ELA: A escuridão nos permite amar aceitando cada delineação visto apenas ao toque dos dedos, ter o prazer de escutar a voz, assim como sentir o valor de um beijo aos olhos fechados...
ELE: É exatamente isso que não quero perder, independente de luz ou sombra.
ELA: Mas...
ELE: ...
ELA: ...
ELE: ... Mas?
ELA: Mas, eu jamais teria o prazer que estou sentindo agora ao ver a luz do sol refletir nos seus olhos. Ao menos uma vez na minha vida... Mesmo que amanhã eu me torne pedra.
ELE: Eu não permitirei que você se torne uma pedra! (a abraça com todas as suas forças)

Os dois permanecem abraçados deitados numa pilha do folhas secas abaixo da sombra de uma grande árvore, ela sobre o peito dele a escutar cada batimento do coração, juntos a contemplar a luz do dia até o momento em que o pôr-do-sol se faz.

ELA: Dê-me a sua mão. (levanta-se num salto)
ELE: ... ?
ELA: Entregue a sua mão sobre a minha.
ELE: Claro! (levanta-se e dá a sua mão, sentindo a força do aperto das duas mãos)
ELA: Agora vamos caminhar.
ELE: Para onde?
ELA: ...
ELE: ... ?
ELA: Não sei. Apenas caminharemos para longe... (os dois se entreolham)
ELE: ... Seus olhos estão brilhando. (um raio de luz do pôr-do-sol ainda reflete focando os dois)
ELA: ... Hm?
ELE: Agora eu entendo o prazer de ver a luz refletir nos seus olhos.
ELA: ... ! (o rosto de pálido se torna rubi)
ELE: Vamos! Caminharemos depressa para onde ninguém possa roubar o brilho dos nossos olhos...

Design e Texto por: 
Ariane Carvalho Xavier
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