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sábado, 16 de novembro de 2013

Sempre o meio do caminho...

Não é oito nem oitenta
Nem negativo nem positivo
Nem o escurecer da noite nem o raiar do dia
Nem a chuva tempestuosa nem o rachado da caatinga
Nem o susto da loucura nem o mesmo da lucidez
Nem há chama do Inferno nem há nuvens no Céu Sagrado
Nem no chão nem na beira da mais alta escada
Nem a água mais fria abaixo do oceano nem a vastidão do deserto

Nenhum dos dois extremos.
No meio do caminho.
Todos estão numa ponte entre dois precipícios.
Mas em algum momento a corda pende mais para um lado do que para o outro, 
a depender da força exercida sobre cada ponta.
Não é estar sobre um muro.
É não obcecar pelo seu lado direito ou esquerdo.
É ser realista.


Ariane Carvalho Xavier
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sábado, 2 de novembro de 2013

Mentirinha


Você conhece a Mentira?
Certamente que sim, meu caro.
Mentiras são filhos que o ser humano insiste em tomar como parte de si.
Adotam, chamam-na de filha e ainda põem nome para a coitada.
Só resta apresentar o registro... E olha que até conseguem "provas".
Seus pais até tentam fingir que Mentira é fruto do seu sangue, do seu ventre...
Mas, pensando bem...
É tal como uma mistura de filha biológica com adotada a depender do sentido que se cria.
A Mentira adotada mal amada que, por vezes, foge de casa e quase se entrega.
Na maioria das vezes, a "polícia" investiga e entregam-na a justiça para que medidas cabíveis sejam tomadas.
É neste momento em que as fontes põem a boca no trombone: "Mentirinha fugiu de casa e seus pais pagaram pelo preço das agressões sofridas! Mas ela não foge mais, pois já cortaram suas pernas."
É... Mentirinha sofre.
E há também a Mentira adotada muito bem amada. Seus pais a amam tanto que o senso de proteção não a deixa sequer olhar pela brecha da cortina da janela do seu quarto. Eles a amam até o fim dos seus dias e não há quem a tire de sua posse. Mentirinha sofre o pão que o seu pai amassou. Chora, chora, mas cala-se como uma criança abusada e coagida. Bem, talvez não seja tão bem amada como costuma aparentar aos outros a volta.
Mentirinha não tem culpa.
São seus pais que a criaram daquela forma.
Ela não tem amigos, não pode ter.
Os coleguinhas adotados que seus pais a arrumam, sempre termina em brigas ferozes entre si.
Mentirinha vive na ponta do nariz, no topo da cabeça, no franzido da testa, na unha dos dedos cruzados nas costas, na boca fechada ou no coração dos seus pais.
Não tem grau de escolaridade, pois são seus criadores que a ensinam a evoluir todos os dias.
Com o passar dos anos, meses ou dias, ela se torna adolescente e, como quase todo jovem, se transforma em episódios de rebeldia. O desenvolvimento se dá de forma com que seus pais a educam e a provocam.
Há criadores que sabem domá-la, outros não conseguem nem levantar o dedo contra ela.
Mas Mentirinha hoje não é mais a mesma. Hoje ela é Mentirão, já está crescida e sabe do que faz.
Por este motivo, muitas vezes ela tem vida curta.
Quando sua vida é muito longa, seus pais morrem, a deixam e ela fica presa no calabouço, ou enterrada no baú velho próximo a grande árvore.
Ora ou outra, alguém a descobre embaixo daquelas flores que embelezavam o jardim e a tira daquele sufoco.
A Mentira nunca quis ser adotada.
Quando cresce, ela deseja nunca ter nascido.
Não adotem uma Mentirinha.
Ela sofre mais do que você.


Ariane Carvalho Xavier

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